Cartistas conseguem derrubar Miguel Prieto, prefeito de Ciudad del Este

Dois prefeitos paraguaios corriam o risco de ser afastados do cargo: o de Ciudad del Este e o de Assunção. Um deles caiu nesta quarta-feira (11): Miguel Prieto, da vizinha Ciudad del Este, que é do movimento de oposição Yo Creo. O de Assunção, ao menos por enquanto, escapou: ele é do Partido Colorado e cartista, isto é, aliado do ex-presidente paraguaio Horácio Cartes, o nome mais forte do país.

A decisão foi da Câmara dos Deputados. Depois de um longo debate, segundo o jornal Última Hora, a maioria cartista decidiu aprovar a intervenção na Prefeitura de Ciudad del Este. Entra um interventor, sai Prieto.

Mas, além dos votos de 47 deputados do Partido Colorado, houve 27 votos da oposição. Só quatro legisladores votaram em branco: uma deputada independente, dois liberais e um colorado dissidente.

De acordo com a apresentação do deputado Alejandro Aguilera (ANR – HC), a intervenção se baseia nas irregularidades mencionadas pela Controladoria Geral da República.

Opositores rebateram os pontos levantados pela Controladoria Geral e criticaram a falta de trabalho da comissão especial criada para fazer diligências em Ciudad del Este.

Diante das críticas, Aguilera destacou que a comissão que analisou o caso agiu de forma aberta e criticou os colegas que questionaram o parecer emitido pela comissão, mas não fizeram o mesmo no caso de Assunção. “Aí é que se vê a incoerência, depende de como se olha”, afirmou.

Ele disse que analisou se havia fatos relevantes que justificassem a intervenção e afirmou que “existem sérias dúvidas sobre a gestão administrativa do prefeito de Ciudad del Este”.

Guillermo Rodríguez, do partido do prefeito Miguel Prieto, destacou que ele é “o político mais importante que a oposição tem hoje”. E que “Ciudad del Este é, de longe, talvez a cidade política e financeiramente mais importante da República do Paraguai e está nas mãos da oposição”.

Segundo ele, o Partido Colorado está ciente de que, por meio de eleições livres e transparentes, não será capaz de recuperar essa prefeitura, “a não ser por meio de uma manobra política fraudulenta e ilegal como a que estão tentando implementar”.

Lembrou também o que aconteceu anteriormente com o ex-presidente Fernando Lugo, que era do oposicionista Partido Liberal Radical Autêntico e sofreu impeachment; e os também oposicionistas que perderam cargos: Mario Ferreiro, ex-prefeito de Assunção, o polêmico ex-deputado Paraguayo Cubas, e, mais recentemente, a ex-senadora Kattya González.

Até a Itaipu Binacional serviu de argumento aos oposicionistas. Guillermo Rodríguez questionou, por exemplo, se a Controladoria Geral da República não poderia ser “igualmente diligente” para investigar os superfaturamentos que ocorrem dentro da Itaipu ou verificar os milhares de casos de nepotismo.

E defendeu a gestão de Miguel Prieto: “Aqui não incomoda a falta de recibo, a falta de documentação, a falta de nota fiscal. Não, o que incomoda (os cartistas) são as 1.300 obras, incomodam as usinas de asfalto, incomodam os ônibus elétricos, incomodam os investimentos em saúde que foram feitos com milhões de dólares, quando o Estado paraguaio por décadas abandonou a cidade à própria sorte, deixando as pessoas morrerem em hospitais precários e de má qualidade, e agora vêm se escandalizar porque são incapazes de tolerar esse modelo político de governo que veio para ficar.”

Mais opiniões

O deputado Raúl Benítez (independente) declarou que a “praga do clã Zacarías” quer entrar para “se apoderar dos recursos” da Prefeitura de Ciudad del Este.

O liberal Adrián Billy Vaesken também comparou os trabalhos feitos pela prefeitura com os da Itaipu Binacional. Disse que a Controladoria deveria intervir na Itaipu, já que “Zacarías Irún fez uma árvore de Natal com US$ 700 mil”.

Ele acrescentou que a Controladoria afirma que a prefeitura de Ciudad del Este não transferiu à Direção de Cadastro Nacional o que lhe cabia em termos de imposto imobiliário, mas apresentou várias faturas de depósito como prova.

Mas, para o deputado Hugo Joel Meza (ANR – HC), ficou demonstrado que os opositores “são iguais ou piores do que qualquer outro colorado”. E disse que o prefeito enviou “uma planilha de pré-escolar” para prestar contas à Controladoria.

Sobre as caixas de documentos enviadas por Prieto para comprovar os gastos de G. 42.000 milhões (o equivalente a pouco mais de US$ 5 mil) — que não foram revisadas — ele comentou: “em 10 caixinhas não cabem as prestações de contas”.

O deputado Raúl Benítez, do Partido Independente, disse que a única infração que pode ser atribuída a Miguel Prieto é a de nepotismo, por designar sua prima como diretora, mas pediu coerência a seus pares para que tirem da Câmara seus “nepobabies”.

O interventor

Já foi escolhido o interventor de Ciudad del Este. É Roberto González Vaesken, nome imposto pela cúpula do movimento Honor Colorado, que é liderado pelo ex-presidente Horácio Cartes, como informa o jornal La Clave.

O nome foi decidido “em que pese o repúdio silencioso de amplos setores da direção do Partido Colorado”, diz o jornal.

Vaesken foi governador do departamento de Alto Paraná (a capital é Ciudad del Este) entre 2018 e 2023). Na sua gestão, acumulou denúncias por supostos casos de corrupção e desvio de fundos públicos.

A Controladoria Geral da República havia detectado, por exemplo, um prejuízo de 668 milhões de guaranis na licitação para o almoço escolar de 2021, vencida por uma empresa que não oferecia a menor proposta econômica.

Foram denunciadas, também, graves irregularidades no uso de bens públicos, como tratores do governo usados em propriedades do então governador e obras encaminhadas diretamente para áreas onde Vaesken possui investimentos.

Há ainda outras dezenas de denúncias. González Vaesken declinou de candidatura legislativa, em 2023, para permanecer como governador até o final de seu mandato e, com isso, ter tempo de “maquiar” sua gestão, conforme La Clave.

O interventor deve assumir nos próximos dias, mas já confirmou sua indicação para o cargo.

Portal da Cidade Foz